Digitalizar soa moderno. Soa limpo, eficiente, transparente. E sim, é… ou pode ser.
Mas digitalizar também significa transferir coisas muito importantes para o mundo dos dados. Coisas como o seu histórico médico, a sua identidade digital, os seus trâmites com a administração pública ou o acesso a serviços públicos básicos.
E é aí que entra em cena um protagonista silencioso, muitas vezes invisível: o Data Center.
Porque por trás de cada receita eletrónica, cada certificado digital, cada sistema de identificação do cidadão ou cada processo administrativo online, existe uma infraestrutura que não pode falhar.
A pergunta é: estamos realmente a dar ao Data Center o papel que ele merece nesta história?
A digitalização do sistema de saúde, da identidade e da administração pública avança a um ritmo constante. E celebramos isso. Mas também é preciso reconhecer que uma transformação tão profunda não pode ser construída sobre uma infraestrutura fraca, obsoleta ou subestimada. Porque quando o cidadão precisa de um serviço, um atendimento médico urgente, um certificado vital, uma solicitação crítica, o que não pode acontecer é o sistema “não estar a funcionar neste momento”.
Hoje, o Data Center já não é apenas uma sala de servidores com boa refrigeração. É a base operacional de direitos fundamentais. O coração invisível que sustenta o novo pacto digital entre o Estado e a cidadania. Sem ele, não há processo, não há assinatura, não há atendimento, não há identidade.
E por isso, não basta que ele simplesmente “funcione”. Tem de ser resiliente, seguro, flexível e transparente. Tem de ser concebido não apenas para operar em condições normais, mas para resistir ao inesperado sem comprometer a confiança.
As bases que sustentam o digital
Estas bases raramente são visíveis. Não aparecem nas campanhas de digitalização nem nos discursos institucionais, mas são elas que determinam se um serviço público digital responde quando é mais necessário… ou se se transforma num problema ainda maior. São decisões de design, operação e governança que, quando bem tomadas, passam despercebidas. E quando mal tomadas, tornam-se demasiado evidentes.
A partir daqui, algumas das práticas que, repetidamente, fazem a diferença entre uma infraestrutura pública confiável e outra vulnerável:
Projetar com redundância real
Não basta ter uma cópia dos dados ou um servidor de backup. A redundância deve aplicar-se à energia, conectividade, climatização e sistemas de controlo. Uma falha não pode paralisar a infraestrutura crítica. A continuidade operacional não é um luxo, é um requisito.
Implementar planos de contingência testados (e testados novamente)
Os Planos de Recuperação de Desastres (DRP) devem existir, sim. Mas também precisam de ser revistos e testados com frequência. O que está no papel não serve se ninguém souber ativá-lo ou se estiver desatualizado. Testes reais salvam o dia.
Priorizar a soberania digital e o controlo direto
Externalizar tudo pode parecer conveniente, mas não ter controlo sobre a infraestrutura que sustenta o sistema de saúde ou de identidade é um risco real. É necessário recuperar o controlo ou, pelo menos, definir condições claras de operação.
Monitorizar em tempo real com alertas inteligentes
Um sistema que falha silenciosamente é mais perigoso do que um que emite alertas. Os Data Centers públicos precisam de ferramentas avançadas de monitorização que não apenas detetem falhas, mas antecipem anomalias. Isso poupa tempo, e confiança. Em cómo cambia tu Data Center cuando el dato toma el mandoexplicamos como essa confiança começa precisamente por confiar em dados reais.
Estabelecer protocolos de comunicação em crises
Quando algo cai, é preciso saber o que dizer, como agir e quem avisar. Os cidadãos aceitam erros humanos. O que não perdoam é a falta de transparência. A transparência operacional também é uma forma de resiliência institucional.
Apostar em talento interno qualificado
A tecnologia pode ser externa. Mas o critério, a capacidade de avaliação e a tomada de decisão devem estar nas mãos da equipa interna. Sem profissionais públicos capacitados, o Data Center torna-se uma caixa-preta. Por isso, escolher bem as ferramentas, e quem as implementa, é fundamental. Como escolher o melhor DCiM não trata apenas de funcionalidades, mas de compreender quais processos e pessoas o irão sustentar.
Planear pensando em crescimento, não em saturação
Muitos Data Centers públicos nasceram pequenos e cresceram por necessidade, não por projeto. Hoje é o momento de repensar a escalabilidade: mais serviços digitais implicam maiores exigências. O design atual deve antecipar o que virá nos próximos cinco anos. E se, além disso, quisermos que essa evolução esteja alinhada com padrões de eficiência energética, recomendamos a leitura de DCiM: a melhor viagem rumo à ISO 50001
Digitalizar a saúde, a identidade e a administração pública não é apenas um avanço tecnológico. É um compromisso.
E esse compromisso só se sustenta se a infraestrutura que o apoia for projetada, operada e cuidada como aquilo que realmente é: infraestrutura crítica para a sociedade digital.
Hoje, mais do que nunca, o Data Center faz parte do sistema de saúde, do sistema de justiça, do sistema educativo e da relação entre o Estado e a cidadania. Não pode falhar. Não deve ser invisível. E, acima de tudo, deve estar à altura da confiança que a sociedade deposita nele, muitas vezes sem se dar conta.
Porque quando a sua saúde ou a sua identidade dependem de um Data Center, não basta ligar os servidores. É preciso visão, responsabilidade e fazer bem feito.