A digitalização global avança a um ritmo acelerado, impulsionada por tecnologias como a computação em nuvem, a inteligência artificial, a Internet das Coisas (IoT) e a automação de processos. Esse crescimento exponencial de dados representa um desafio importante: os grandes centros de dados serão capazes de lidar com toda essa carga de maneira sustentável e eficiente?
Apesar de os grandes centros de dados terem se tornado a espinha dorsal do ecossistema digital, eles enfrentam grandes desafios energéticos, operacionais e ambientais, que colocam em dúvida sua capacidade de sustentar a digitalização global de forma indefinida. Vamos explorar as limitações desses gigantes, o consumo de recursos que exigem, o papel crescente dos países BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) e por que uma infraestrutura descentralizada pode ser o futuro da indústria..
Crescimento dos centros de dados de hiperescala: até onde podem chegar?
Os centros de dados de hiperescala, operados por gigantes tecnológicos como Amazon Web Services (AWS), Google Cloud, Microsoft Azure e Meta, cresceram de maneira exponencial na última década. Segundo um relatório do Synergy Research Group, o número de grandes centros de dados superou 1.000 no início de 2024, e espera-se que a cada ano sejam adicionadas entre 120 e 130 novas instalações.
À medida que a digitalização avança, espera-se que a capacidade total dos centros de dados se triplique até 2030, em grande parte devido à adoção de tecnologias de inteligência artificial e machine learning, que exigem uma enorme capacidade de processamento.
No entanto, esse crescimento tem um custo: a infraestrutura física e o consumo de recursos energéticos e hídricos estão alcançando limites preocupantes e insustentáveis.
O problema energético: haverá eletricidade suficiente para todos?
O rápido crescimento dos centros de dados gerou preocupação em torno do seu impacto na demanda energética mundial. Segundo a Gartner, até 2027, o consumo energético dos centros de dados impulsionados por IA aumentará 160%, e 40% desses centros poderão enfrentar limitações operacionais devido à falta de fornecimento energético suficiente.
Consumo atual e previsões para o futuro
Em 2022, os centros de dados em todo o mundo consumiram cerca de 460 terawatts-hora (TWh), o que representou aproximadamente 2% do consumo elétrico global.
Estima-se que, até 2030, esse consumo se triplicará, o que representará entre 6% e 8% do consumo total de eletricidade a nível mundial.
Para colocar isso em contexto, o setor de centros de dados consumirá mais energia do que o Reino Unido, a Alemanha e a França juntos.
Além do consumo elétrico, os centros de dados também geram um enorme desperdício de calor, o que obriga a implementar sistemas de refrigeração caros que aumentam ainda mais o gasto energético. Em algumas regiões, as restrições no fornecimento de eletricidade começaram a frear a expansão desses gigantes.
Escassez de energia nos Países Baixos, exemplo real
Em Amsterdã, o rápido crescimento dos centros de dados levou o governo a congelar a construção de novas infraestruturas em 2019 devido à insuficiência do fornecimento de energia. Empresas como Microsoft e Google tiveram que repensar seus projetos de expansão devido à falta de eletricidade disponível na região.
Em Amsterdã, o rápido crescimento dos centros de dados levou o governo a congelar a construção de novas infraestruturas em 2019 devido à insuficiência do fornecimento de energia. Empresas como Microsoft e Google tiveram que repensar seus projetos de expansão devido à falta de eletricidade disponível na região.
O problema da água: Refrigeração em massa e escassez de recursos
Além do seu alto consumo energético, os centros de dados de hiperescala exigem grandes quantidades de água para refrigeração.
Um centro de dados médio de 100 MW pode consumir mais de 1 milhão de litros de água por dia para resfriar seus servidores..
Em regiões secas ou com estresse hídrico, esse consumo compete diretamente com a água destinada ao uso humano e à agricultura.
Em Aragão, a expansão dos centros de dados da Amazon implicaria um consumo anual de água equivalente ao de uma cidade de 20.300 lares.
A crescente necessidade de água levou alguns governos a questionar a viabilidade de continuar construindo centros de dados em áreas vulneráveis às mudanças climáticas.
O impacto dos BRICS no mercado de centros de dados e no consumo energético
Os países BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) estão desempenhando um papel cada vez mais importante na expansão global dos centros de dados, o que resulta em um aumento considerável na demanda de energia e recursos.
Crecimiento acelerado de la infraestructura digital en los BRICS
A China está investindo massivamente em centros de dados e energias renováveis, liderando o desenvolvimento digital na América Latina e em outras regiões.
A Índia está construindo novas infraestruturas para se tornar um hub digital global, com investimentos massivos em centros de dados..
O Brasil, a Rússia e a África do Sul estão aumentando gradualmente sua capacidade, com investimentos em soluções sustentáveis.
Impacto no consumo energético global
Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), os centros de dados consumiram 460 TWh em 2022, mas esse número pode ultrapassar os 1.000 TWh em 2026, com uma grande parte do crescimento proveniente dos BRICS.
A necessidade de energia limpa levou essas nações a apostar em contratos de compra de energia renovável para reduzir seu impacto ambiental.
Embora os BRICS estejam contribuindo para o crescimento digital, também estão ampliando o consumo de recursos de maneira significativa, o que aumenta a pressão sobre as infraestruturas energéticas globais.
A descentralização como alternativa: Centros de dados modulares e Edge Computing
Dado que os grandes centros de dados estão chegando aos seus limites de sustentabilidade, a descentralização da infraestrutura tecnológica se apresenta como uma alternativa viável para o futuro da digitalização.
Os centros de dados modulares e o Edge Computing oferecem várias vantagens:
Menor consumo de energia: Até 30% mais eficientes do que os de hiperescala.
Localização estratégica: Mais próximos dos usuários, reduzindo a latência.
Menos dependência de água: A refrigeração líquida pode reduzir o consumo hídrico em até 90%.
Maior adaptabilidade: Expansão modular e flexível conforme a demanda.
O que nos espera no futuro?
O crescimento descontrolado dos centros de dados de hiperescala não é sustentável a longo prazo.
As tendências do mercado indicam que os grandes operadores começarão a diversificar suas infraestruturas e apostarão em modelos híbridos que combinem centros de dados tradicionais com Edge Computing e soluções modulares.
Além disso, espera-se que os avanços em chips de baixo consumo, redes 5G e processamento distribuído ajudem a mitigar a crise energética do setor. No entanto, a chave estará em encontrar um equilíbrio entre eficiência, sustentabilidade e demanda de infraestrutura.
A digitalização é imparável, mas depender exclusivamente dos hiperescalares não é viável. É hora de repensar o modelo e construir um futuro tecnológico mais sustentável.
Fique com isso
Os grandes data centers foram fundamentais na transformação digital, mas seu crescimento descontrolado está esbarrando em limites físicos e ambientais. A crise energética, a escassez de água e as dificuldades para continuar expandindo-os colocam em dúvida sua viabilidade como única solução para a digitalização global.
Para garantir um futuro tecnológico sustentável, é crucial adotar uma abordagem mais descentralizada, apoiada em data centers modulares, Edge Computing e tecnologias mais eficientes.
O futuro dos dados não pode depender apenas de megaestruturas energeticamente insustentáveis. É hora de inovar e construir uma infraestrutura digital equilibrada, eficiente e respeitosa com o meio ambiente.