No mês passado, em novembro, tivemos um encontro com clientes na Argentina que nos permitiu realizar uma análise exaustiva e conjunta sobre o mercado de Data Centers no país. 

Nesta jornada, que contou com a participação de gestores de operações de setores como Operadoras, Colocation e Bancos, foram geradas conclusões significativas que refletem o estado atual e os desafios do setor. Este relatório busca refletir sobre essas conclusões, desenvolver uma análise que relacione diferentes pontos críticos e fornecer dados relevantes, incluindo inputs e outputs que permitam uma visão clara para a tomada de decisões.

O Mercado de Data Centers na Argentina

Planos de Crescimento em Colocation, Telco e Bancos: De onde vem o aumento da demanda?

1. Colocation: A digitalização das empresas impulsiona uma demanda crescente por serviços de colocation, especialmente para soluções que integram armazenamento de dados e conectividade. Além disso, há um interesse crescente em oferecer nuvens próprias como produtos diferenciados por parte dos provedores de colocation, que possuem o conhecimento e a capacidade para incorporar esses produtos ao seu portfólio. Outra via de crescimento prevista é o alojamento de nuvens de terceiros, gerando uma oferta integral.
2. Telco: As telecomunicações estão em plena expansão na Argentina, particularmente em conectividade móvel e fibra óptica. Este mercado também é impulsionado pela aquisição de provedores de internet (ISPs) médios e pequenos por grandes operadoras, consolidando a oferta e melhorando a cobertura nacional. A demanda gerada pelo aumento de dispositivos conectados à internet representa, claramente, um desafio para as operadoras em termos de cobertura, disponibilidade e largura de banda.
3. Bancos: O setor financeiro está passando por uma transformação digital que inclui o crescimento do banco online, a adoção de finanças embutidas e o modelo de open banking, o que implica uma maior demanda por infraestrutura tecnológica segura e escalável.

Projetos em Desenvolvimento​

Os projetos compartilhados durante o encontro destacam avanços significativos, sendo um dos pontos mais aprofundados o retrofit em estações base com filosofia edge, que abrem caminho para tecnologias avançadas como IA e 5G, atendendo às necessidades em áreas remotas.

Investimentos e Novos Projetos já Anunciados no Mercado:

• ​​Claro Argentina: Data center Tier III em Buenos Aires (2024-2026), com um investimento inicial de 30 milhões de dólares e design de alta disponibilidade.
• G2K: Desenvolvimento de um data center Tier III de 3.000 m², posicionado como um dos mais avançados da região.
• Oracle: Avaliação de um investimento de 100 milhões de dólares, focado em soberania de dados e menor latência.
• Cirion: Expansão de capacidade em 1,5 MW e exploração de um novo local na área de Buenos Aires.
• Provincia de Buenos Aires: O governo provincial inaugurou seu primeiro data center, consolidando seu compromisso com a modernização tecnológica e a melhoria dos serviços digitais para os cidadãos.

Reflexões:
Embora as oportunidades sejam evidentes, as condições econômicas e a falta de estabilidade política representam os principais desafios, considerando que os investimentos em data centers são feitos com uma vida útil de 20-30 anos. Os investimentos regionais em países como Brasil e Chile evidenciam um mercado competitivo, onde a Argentina precisa consolidar sua proposta de valor.

Impacto da Inteligência Artificial no Mercado de Data Centers

Efeitos da IA na Infraestrutura

1. Demanda de Recursos:

• A IA está transformando as necessidades de armazenamento e processamento, demandando servidores de alta densidade e capacidades energéticas robustas.
• Projeções globais indicam um consumo de 18 GW para 2028, o que destaca a importância de preparar uma infraestrutura adequada.

2. Infraestrutura Tecnológica:

• Redes de baixa latência e hardware especializado, como TPUs, agora são imprescindíveis.
• O uso de resfriamento líquido está se posicionando como uma solução crítica frente ao calor gerado pelas cargas de trabalho de IA.

Vantagens:

 Clima: As baixas temperaturas da Patagônia argentina são ideais para contribuir com uma redução do consumo de energia que se investe em refrigeração. 

 Espaço:  As províncias patagônicas oferecem vastas extensões de terrenos desabitados, ideais para construir as instalações de grande escala e sem interferências que os data centers requerem.

 Acesso a fontes de energia a baixo custo (10 centavos de dólar por KW): 
Dispõe-se de fontes como petróleo e gás, hidroelétrica, nuclear, além de condições favoráveis para a instalação de parques eólicos e solares em grande escala, entre outras.

 Conectividade: O cabo submarino em Las Toninas e Chile permitiria baixa latência, faltando apenas melhorar um pouco a conectividade interna de 4G, 5G e fibra.

Condições econômicas e comerciais: Indicadores como o RIGI, a abertura econômica para importação de equipamentos e a queda da inflação geram otimismo, embora sejam necessárias políticas estáveis a longo prazo

Talento humano: A Argentina é reconhecida internacionalmente por formar profissionais de alta qualidade em tecnologia, como cientistas da computação e engenheiros de software, com fluência em inglês e formação em instituições de ensino renomadas.

Consumo de energia, como a IA afeta?

Atualmente, a IA exige 4,3 GW de potência dos data centers, e espera-se que esse valor aumente para 18 GW até 2028. Estima-se que, até esse ano, as cargas de trabalho de IA representem entre 15% e 20% do consumo total de energia dos data centers. Isso significa que essas estruturas devem se adaptar para atender às demandas energéticas das aplicações impulsionadas por IA de forma eficaz e sustentável.

Sostenibilidad en el Sector, cómo paliar el efecto de aumento de consumo.

Hoje, os KPIs não estão sendo medidos nas empresas nacionais. No entanto, as empresas listadas nas bolsas dos EUA ou Europa já estão começando a implementá-los.

A nova lei na Argentina indica que 20% da energia deve ser renovável para consumos
maiores que 300 kw, mas as multas por descumprimento são baixas, o que limita sua efetividade. É essencial promover incentivos fiscais e programas de capacitação para alcançar um impacto real.

Reflexões: 
Ainda que os dados que o mercado nos fornece estejam alinhados com o anterior, a realidade do dia a dia é que hoje não existe essa pressão sobre os Data Centers da Argentina. A máxima capacidade que hoje se está solicitando no país é de 8kw por rack, estando hoje muito longe das cifras que se maneja quando se fala de infraestrutura relacionada com processos de IA. Isso não quer dizer que não vá chegar e se tenha que preparar o mercado, o que indica é que se deve ser prudente com as cifras que o setor apresenta e buscar formas para ter infraestrutura escalável e com designs muito versáteis que permitam ir se adaptando às exigências do serviço.

Apesar das vantagens mencionadas serem reais, existem algumas questões que preocupam:

• Conectividade de última milha (elétrica e de telecomunicações): Há uma distribuição troncal importante de fibra e energia elétrica, mas por ser um país tão extenso, falta capilaridade para chegar a zonas afastadas do tronco.
• Dúvidas sobre se o negócio de IA justifica todo o investimento em infraestrutura de site e de distribuição elétrica e de rede que se requer para torná-lo viável.
• Se se chega a valores de 100kw por rack, existe tecnologia de refrigeração que suporta a dissipação de calor associada? O que acontece se cair toda ou parte da refrigeración? A inércia térmica tornaria muito complicado voltar às temperaturas de operação e os equipamentos correriam alto risco.

Uso de IA na Operação do Data Center 

Inputs y Outputs: O que a IA pode contribuir

Muito se fala sobre o que a IA representará para a infraestrutura dos Data Centers, no entanto, pouco se fala sobre o que ela pode fazer para otimizar a operação do dia a dia, a análise, a previsão ou a automação de processos.

Para sermos ainda mais específicos, realizamos um exercício. Começamos identificando os dados que a infraestrutura do Data Center nos fornece, o que chamamos de inputs, e visualizando as informações úteis ou tarefas recorrentes onde a IA pode nos ajudar a ser mais eficientes e eficazes. Em resumo, estamos explorando como a IA nos ajudará a minimizar riscos, aumentar a receita e reduzir custos.

E se todos os participantes concordaram em algo, foi na necessidade de uma interface simples e que a informação seja fornecida em uma linguagem compreensível por diversas áreas, independentemente do conhecimento técnico que possuam. Hoje, vislumbra-se ter um assistente virtual que permita fazer perguntas de forma natural.

Reflexão:
A aplicação de IA na operação dos Data Centers não apenas garante uma maior eficiência operacional, mas também permite antecipar problemas antes que ocorram, melhorando a confiabilidade e reduzindo custos a longo prazo. Essa abordagem integrada também é fundamental para incorporar a sustentabilidade como um eixo estratégico, transformando a forma como os recursos são gerenciados.

Notas para finalizar

1. Consolidar Infraestrutura: Investir em conectividade de última milha e soluções energéticas sustentáveis.

2. Impulsionar a IA: Fomentar a adoção de tecnologias avançadas que permitam à Argentina se posicionar como um hub regional.

3. Atração de Investimentos: Criar incentivos que promovam o desenvolvimento de projetos locais e atraiam capital estrangeiro.

4. KPIs e Normativas: Desenvolver ferramentas que permitam medir a sustentabilidade e eficiência dos DCs de forma padrão.

Próximos Passos:
Bjumper continuará integrando IA em seus produtos para garantir a automatização total e um futuro competitivo para seus clientes. Os dados e reflexões aqui expostos são o primeiro passo para construirmos juntos um setor robusto, sustentável e preparado para os desafios do amanhã. 🚀